terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Procurando Vinicius


Já sai a te procurar
Sem saber sabendo
Que era em você que desejava esbarrar

Vestida de mim, acompanhada de luzes
Te chamei por Vinicius
Os braços infinitos, os olhos de imã
Mas só você saberia cantar

Na gaiola da noite
Na passarela da madrugada
Seu passo era outro
Me divertia, mesmo sabendo
Que seu violão tocava em outra
Outra sintonia

E me divertindo no colorido da jaula
Me conhecia
Te atraía
Ah! Te captava!
Num soneto de amor total!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A Ausente

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à ideia dos meus
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro....
Amiga, última doçura
A tranquilidade suavizou minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar..

Vinicius de Morais

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Outra Canoa

"Agora, ela sabia: um livro é uma canoa. Esse era o barco que lhe faltava em Antigamente. Tivesse livros e ela faria a travessia para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma" 


Mia Couto. "O outro pé da sereia"

Mestre Valdemar Farias dos Santos - 15min. (Finalizado)

O Jangadeiro Amoroso

O Jangadeiro amoroso
Vai nas ondas a cantar
E a jangada aventuroso
Vai levando sobre o mar

Enquanto as ondas prateadas
Vão cantando o seu poema
E nas brisas perfumadas
Ouve-se a voz de Iracema

Nas campinas de esmeraldas
Tão verde da cor do mar
Do sol ao brilho que escalda

Vai-se um povo a trabalhar

Valentim Magalhães - Gazeta de Noticias

sábado, 11 de dezembro de 2010

Como você

Selvagem como você
Selvagem, como você
Selvagem como, você!
Selvagem!

A grande chuva

Grande chuva
Lagrimas
Seio do céu
Alimenta a terra
Grande chuva
Relâmpago
Lanterna do céu
Pra clarear grande terrra!

Sim!
Estou nua
A chuva escoa
Sim!
Estou, sua
O barulho ecoa
Sim!
Estou....

Flores em concha

Luz do mar
escondida do alto
conchas em flores
desabrocham no peito
emoção infinita

Um homem coleciona
flores em concha
Perolas rolam do peito
aos olhos
sinalizam o outono do inverno

Uma mulher vestida de plancton
chora estrelas
tecidas na sombra da primavera

Eterno mar
Mergulho da gota
encandescente
no verão circular
oceano.

Espelho

Sagrado Mar
Santificado
Divino amoroso em extensão
Venera um marinheiro ausente
Repleto de ar
Presenteia, seduz
Espelho lunar
Estrelas no mar

Tua bondade inspirada
cheira terra
Suspira o ramo verde
Raiz permanente
Algas verdes iluminadas, cintilantes
Percorrem o horizonte

A ultima folha cai
Na noturna viagem
que fulgura a essência
da solidão desfrutar

Sigo

Sou rio
Sigo
Alimento
Das margens carrego, arrasto
O doce das pedras
Fluo
Sigo
Recebo chuvas
Cresço
Escorrego por vales
Afino
Sigo
Avisto o mar, desejo me dar
Sigo
Minhas águas, querem salgar
Morrer!
Nascer mar!

Vaporoso

Na bruma vaporosa que se faz
com o calor das palavras
derramo sobre teu pescoço
a fantasia translúcida
revelada pela luz de tua imagem
mistica, plena e obscena
Boca, olhos, peito
braços, ventre e pescoço
colorem a ação da luz
Devagar
sem pressa
tua energia radiante
luminoso êxtase
Amanhece e anoitece
e mim...

Vazante

Suas mãos
levando a boca
minha fruta
Selvagem
Mar eterno
Poesia minha, teus braços
Desenhos de luz
Desenhos de ti
Melodia, teu peito
sensível, forte
em branco e preto
No mistério das sequências
Meu apetite, teu ventre

Teus olhos de desejo
barco rumo, mar de dentro
Perco o prumo
Avança mais fundo
Aportando já sem razão
Pra lá de mim
Onde tua boca
Carinho meu
amansa com calma
a maré vazante
de mim

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

(Carranca de Proa)

LXVIII


A MENINA de madeira não chegou caminhando:
ali esteve de súbito sentada nos ladrilhos,
velhas flores do mar cobriam sua cabeça,
seu olhar tinha tristeza de raízes.

Ali ficou olhando nossas vidas abertas,
o ir e ser e andar e voltar pela terra,
o dia descobrindo suas pétalas graduais.
Vigiava sem ver-nos a menina de madeira.

A menina coroada pelas antigas ondas
ali fitava com seus olhos derrotados:
sabia que vivemos numa rede remota

de tempo e água e ondas e sons e chuva,
sem saber se existimos ou se somos seu sonho.
Esta é a história da moça de madeira.
Pablo Neruda - Cem Sonetos de Amor

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

vagaroso

Sua onda mansa
Entrada de mangue
Quente
Umido
Desfila entre os dedos
a vagar
Não mostra aonde vai
vagarosamente..
ocupando, encostando
escorrendo na vazante
Na espera da maré
Viver