segunda-feira, 17 de março de 2008

Quase Nada!



De você sei quase nada
Pra onde vai
Ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
Do meu caminho
Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo pra toda fome que há no mundo

Noite alta que revela,
Um passeio pela pele
Dia claro
Madrugada
De nós dois não sei mais nada

Se tudo passa como se explica?
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

De você sei quase nada
Quase nada

Zeca Baleiro

terça-feira, 11 de março de 2008

Será?

O que gostaria, não consigo realizar
Fico pensando
Sei lá em quê
Mas quando vejo as horas
Percebo
O tempo passa
A vida vai
Algo fica
As vezes acha que esqueceu
Finge
E engana a si mesmo
Fica pensando em nada
Esquecendo de tudo
E vê que sente
Sente falta
Até o vento faz lembrar
Suspirar
Será?
Não consigo realizar
O que gostaria
Fico pensando
Sei lá em quê
Mas quando vejo as horas
Percebo
O tempo passa
A vida vai
Algo fica
Acha que esqueceu
Finge
E engana a si mesmo
Fica pensando em nada
Esquecendo de tudo
E sente
Sente falta
Até o vento faz lembrar
Suspirar
Algo na vida pra nunca mais esquecer...

terça-feira, 4 de março de 2008

PALAVRAS AO MAR



Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias! Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pêlo!
Junto da espuma com que as praias bordas,
Pelo marulho acalentada, à sombra
Das palmeiras que arfando se debruçam
Na beirada das ondas - a minha alma
Abriu-se para a vida como se abre
A flor da murta para o sol do estio.
Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras:
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro;
E as leves garças, como olhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o vôo à tona das espumas...
É o tempo em que adormeces
Ao sol que abrasa: a cólera espumante,
Que estoura e brame sacudindo os ares,
Não os sacode mais, nem brame e estoura;
Apenas se ouve, tímido e plangente,
O teu murmúrio; e pelo alvor das praias,
Langue, numa carícia de amoroso,
As largas ondas marulhando estendes...
Ah! vem daí por certo
A voz que escuto em mim, trêmula e triste,
Este marulho que me canta na alma,
E que a alma jorra desmaiado em versos;
De ti, de tu unicamente, aquela
Canção de amor sentida e murmurante
Que eu vim cantando, sem saber se a ouvia,
Pela manhã de sol dos meus vinte anos.
Ó velho condenado
Ao cárcere das rochas que te cingem!
Em vão levantas para o céu distante
Os borrifos das ondas desgrenhadas.
Debalde! O céu, cheio de sol se é dia,
Palpitante de estrelas quando é noite,
Paira, longínquo e indiferente, acima
Da tua solidão, dos teus clamores...
Condenado e insubmisso
Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo
Uma alma sobre a qual o céu resplende
- Longínquo céu - de um esplendor distante.
Debalde, o mar que em ondas te arrepelas,
Meu tumultuoso coração revolto
Levanta para o céu como borrifos,
Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.
Sei que a ventura existe,
Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa.
Como dentro da noite amortalhado
Vês longe o claro bando das estrelas;
Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas
Da alma entreabrindo, subo por instantes...
O mar! A minha vida é como as praias,
E o sonho morre como as ondas voltam!
Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias! Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pêlo!
Ouço-te às vezes revoltado e brusco,
Escondido, fantástico, atirando
Pela sombra das noites sem estrelas
A blasfêmia colérica das ondas...
Também eu ergo às vezes
Imprecações, clamores e blasfêmias
Contra essa mão desconhecida e vaga
Que traçou meu destino... Crime absurdo
O crime de nascer! Foi o meu crime.
E eu expio-o vivendo, devorado
Por esta angústia do meu sonho inútil.
Maldita a vida que promete e falta,
Que mostra o céu prendendo-nos à terra,
E, dando as asas, não permite o vôo!
Ah! cavassem-te embora
O túmulo em que vives - entre as mesmas
Rochas nuas que os flancos te espedaçam,
Entre as nuas areias que te cingem...
Mas fosses morto, morto para o sonho,
Morto para o desejo de ar e espaço,
E não pairasse, como um bem ausente,
Todo o infinito em cima de teu túmulo!
Fosse tu como um lago,
Como um lago perdido entre as montanhas:
Por só paisagem - áridas escarpas,
Uma nesga de céu como horizonte...
E nada mais! Nem visses nem sentisses
Aberto sobre ti de lado a lado
Todo o universo deslumbrante - perto
Do teu desejo e além do teu alcance!
Nem visses nem sentisses
A tua solidão, sentindo e vendo
A larga terra engalanada em pompas
Que te provocam para repelir-te;
Nem buscando a ventura que arfa em roda,
A onda elevasses para a ver tombando,
- Beijo que se desfaz sem ter vivido,
Triste flor que já brota desfolhada...
Mar, belo mar selvagem!
O olhar que te olha só te vê rolando
A esmeralda das ondas, debruada
Da leve fímbria de irisada espuma...
Eu adivinho mais: eu sinto... ou sonho
Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo
Pelos fundos abismos do teu peito.
Ah, se o olhar descobrisse
Quanto esse lençol de águas e de espumas
Cobre, oculta, amortalha!... A alma dos homens
Apiedada entendera os teus rugidos,
Os teus gritos de cólera insubmissa,
Os bramidos de angústia e de revolta
De tanto brilho condenado à sombra,
De tanta vida condenada à morte!
Ninguém entenda, embora,
Esse vago clamor, marulho ou versos,
Que sai da tua solidão nas praias,
Que sai da minha solidão na vida...
Que importa? Vibre no ar, acode os ecos
E embale-nos a nós que o murmuramos...
Versos, marulho! Amargos confidentes
Do mesmo sonho que sonhamos ambos!

(Vicente de Carvalho)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Uma manhã ...

Um olhar carrega consigo magia
Leva ao desconhecido

Cabeceira da cama é a felicidade
O lençol é névoa matutina
Cobre os corpos
Com a paz serena de uma manhã

Não Posso Evitar de me Apaixonar




Sábios dizem que só os tolos se aventuram;
Mas eu não consigo evitar de me apaixonar por você;
Devo eu ficar!? Seria isso um pecado!?;
Se eu não consigo evitar de me apaixonar por você;

Assim como um rio vai certamente para o mar;
Assim isso também é certo (segue);
Algumas coisas são para acontecer;

Pegue minha mão;
Pegue minha vida inteira também;
Por eu não evitar de me apaixonar por você...

Bob Dylan